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Archive for 16 de maio de 2009

Entre os convidados para a mostra está Paulo André, criador do festival Abril Pro Rock, que falou da crise que o mercado fonográfico vive atualmente, sobre a melhor forma de divulgar o trabalho de um artista e de sua satisfação em estar visitando a Fundação Casa Grande.

  Qual sua profissão?

Sou produtor musical, também faço curadoria para projetos musicais, gerencio a carreira de dois artistas, o DJ Dolores e o Mundo Livre S/A que é uma banda. Faço parte da ABRAFIM – Associação Brasileira dos Festivais Independentes. E tenho uma produtora com duas sócias a qual realizamos o Festival Abril Pro Rock, que agora em abril a gente fez a décima sétima edição, realizamos também o Porto Musical que é uma conferencia internacional de musica e tecnologia que vai acontecer agora em junho a quarta edição.

 Como foi o inicio da sua carreira como produtor musical?

Olha nada na vida é fácil, e eu escolhi um tipo de música que não é popular no Brasil muito menos no nordeste. Eu me especializei, em artistas jovens, em processo de formação de público, buscando mercado, não só o regional, nacional mas o internacional. E eu comecei basicamente fazendo sem ter cursado nenhum tipo de curso, nem havia ninguém na minha família que trabalhasse com esse tipo de coisa, então eu costumo dizer que aprendi da melhor forma, que é aprender fazendo. Claro que não é fácil. É um caminho muito mais difícil, porque você acaba em alguns momentos errando, mas errando para acertar, mas depois de tudo isso, posso dizer que valeu muito a pena.

 O que a banda Nação Zumbi representa para você?

 Na verdade quando eu comecei a trabalhar com eles era Chico Sciene e Nação Zumbi. Fui produtor da banda na produção dos dois CDs: Afrociberdelia e Da lama ao caos. Quando o Chico era vivo a gente trabalhava junto. Então eu acho que Chico Sciene e Nação Zumbi pelo menos na música brasileira representam algo muito significativo de um movimento que surgiu no Nordeste, havia na verdade uma movimentação de bandas e o que acontece é que desde os anos 70 quando aquela geração dos pernambucanos como Geraldo Azevedo, Lula Cortes, Alceu Valença se consagraram, a gente ficou quase duas décadas sem ter um referencial de um artista do Recife, de Pernambuco se projetando nacionalmente. No Caso de Chico Sciene e Nação Zumbi, essa projeção foi internacional, o primeiro CD da banda foi lançado no Japão, na Europa e nos Estados Unidos, então eu tenho muito orgulho de ter feito parte desta história e o Chico Faleceu muito precocemente com apenas 30 anos de idade, com dois discos gravados, mas entre o lançamento de “Da lama ao caos” em abril de 94 e a morte dele em fevereiro de 97 são menos de três anos, nós conseguimos fazer duas turnês européias, uma ida para a França para um festival. Então foram três idas a Europa e duas aos Estados Unidos, na mesma ocasião das idas a Europa. Fizemos ao todo oito países. E quando você dá uma olhada na trajetória da Banda, no caso ainda Chico Sciene e Nação Zumbi, não sei, parecia que de alguma forma a gente, claro que isso não aconteceu, parecia que sabíamos que não ia durar muito tempo e estávamos tão a fim fazer as coisas que conseguimos fazer tanto. A Nação Zumbi segue na minha opinião, independentemente da amizade e da aproximação que tenho com eles, com uma das melhores bandas do país. Voltamos a trabalhar junto em 2005 e 2006, os representei para o mercado internacional, mas aí eu senti que o mercado internacional não estava sendo neste momento uma prioridade e a gente continua amigo e eu admiro muito o trabalho deles.

Como fazer para criar um selo independente?

Olha, eu acho que hoje com este declínio das vendas de CDs, o caminho já não é mais um selo. Agora o artista pode se lançar de uma forma independente é importante que ele consiga uma distribuição para o CD, para não ficar vendendo de mão e mão. Vejo a internet hoje como a maior facilitadora, propagadora e divulgadora, nesses temos de crises no mercado fonográfico no Brasil, agravada pela pirataria. E no exterior em regiões como os Estados Unidos e Europa existe pobreza mas, não tanto como no Brasil e o pessoal tem acesso maior à internet, conseguem baixar músicas. Vou dar um exemplo, “O Mundo Livre S/A” que é uma banda que trabalho, está completando em 2009, 25 anos de carreira e a gente vai fazer um disco novo agora, e quando ele for lançado vamos disponibilizar 70% ou 80% desse disco de graça na internet para os fãs baixarem, pois o que queremos é sair em turnê pelo Brasil e pelo exterior, as pessoas consigam cantar músicas e não ficar tentando vender discos no mercado, onde já não se vende discos. Eu costumo dizer e já falei isso na minha palestra que hoje o maior vendedor de discos é justamente o show ao vivo. Quem consegue tocar muito e emocionar a platéia e os fãs, ainda consegue vender discos, mas esse formado de discos no Brasil, ainda tem uma sobrevivência maior porque o Brasil é um país de terceiro mundo, mas não acredito que seja um formado ideal para um artista que está se lançando agora. É importante que ele faça o CD, mas que também disponibilize e se promova através da internet.

 Como está o mercado de música brasileiro hoje? 

Eu fico muito triste, pois venho de um estado onde a música tradicional e contemporânea tem muito valor e é muito atuante. Talvez o melhor exemplo seja o DJ Dolores, que apesar do nome, ele é um DJ como outro qualquer, mas ele também tem a banda dele, que são seis pessoas no palco, e lançou um disco no início do ano passado, um disco que teve distribuição internacional, através de uma gravadora da Bélgica que é uma das principais gravadoras para a música brasileira lá fora. Existe um grupo de radialistas europeus, que todo mês manda uma informação, do que eles tocaram nos seus respectivos programas e respectivas rádios e sai uma lista dos vinte discos do mês. No final do ano fazem um apanhado dos 150 pop discos dessa lista. E o DJ Dolores foi o artista brasileiro mais bem classificado nessa lista em 2008. O DJ Dolores é sergipano mas mora no Recife há muitos anos e a música dele foi desenvolvida no Recife, ele não toca. Então para mim é uma grande contradição, é um exemplo de como é difícil  o mercado brasileiro, como é difícil de trabalhar com esse tipo de música, porque você tem um artista que é reconhecido na Europa, nos Estados Unidos, circula nesses mercados, mas na cidade onde ele vive, onde produz, vamos dizer assim “o público não tem o direito de escutá-lo”.

Você vai criar um projeto cultural?

 É um embrião ainda, é um sonho que tenho. A minha família paterna vem do interior, de uma região chamada Pajéu no sertão pernambucano, de uma cidade chamada Tabira. E o meu Tio mais novo, cuidava da casa da família. Ele veio a falecer e em seguida uma tia minha, então, nesse momento a família está fazendo a partilha dos bens, e eu conversei com meus pais e meus tios que tinha o desejo de começar um projeto lá que trabalhasse com jovens, com crianças e principalmente com música. Então, espero no futuro próximo poder começar alguma coisa parecida com o que é a Fundação Casa Grande. Por isso que eu tinha tanta vontade de vir aqui conhecer esta experiência.Quando ouvi falar desta mostra Cariri das Artes dos Países de Língua Portuguesa, achei que era o momento e a oportunidade certa e aqui estou eu, muito feliz da vida de estar participando deste evento aqui na Fundação Casa Grande.

 Qual o seu objetivo estando agora na mostra?

O meu objetivo acima de tudo era conhecer e interagir com a Fundação. Achei tudo muito legal, não poderia ser melhor. Agora o meu objetivo é interagir cada vez mais com a Fundação. Sinto que a partir deste encontro com o pessoal de Moçambique, Portugal, Angola, vai nascer alguma coisa de concreto entre as pessoas que estão aqui participando e acho que é isso o melhor que vou levar daqui, justamente essa interação não só com as pessoas e os jovens e as crianças que fazem a Fundação Casa Grande, mas também com os artistas e gestores culturais que foram convidados para esta mostra, e todo mundo interagiu muito bem e a experiência foi à melhor possível.

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